quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dar e receber colo fortalece relações familiares



Nascemos do colo de nossa mãe. Esse colo materno que nos acolhe, alimenta e propicia o espaço para nos formamos como seres humanos. Desde o início, somos carregados neste colo que, depois do nascimento, se torna um bálsamo onde nos deitamos e nos alimentamos física e emocionalmente. Um colo que pode continuar sendo bem-vindo durante toda a vida, que vem deste primeiro vínculo, tão importante para a estruturação do ser.

Quando crescemos, temos a possibilidade de olhar para nossos pais com mais maturidade e observar que, em alguns momentos, eles também precisam de colo, cuidado e atenção."Quando crescemos, temos a possibilidade de olhar para nossos pais com mais maturidade e observar que, em alguns momentos, eles também precisam de colo, cuidado e atenção."

A vida, como sabemos, é uma montanha-russa, cheia de altos e baixos. Muitas vezes nos deparamos com situações difíceis e percebemos a necessidade de apoiar quem sempre nos apoia.
Em certos momentos, um colo de filho é tão bem-vindo quanto o colo de mãe foi para ele, durante toda sua vida. Aquela mulher, que em nossa infância nos parecia indestrutível e forte, também tem suas fragilidades, dificuldades, angústias e carências. Pode ter, ainda, momentos em que não consegue dar conta de tudo e desmoronar por conta disso, já que também passa por vendavais, furacões e terremotos emocionais.

Quando podemos olhar para nossa mãe com um olhar mais maduro, de adulto para adulto, muitas vezes desconstruímos esta imagem de heroína que tínhamos quando crianças. Então percebemos que em alguns momentos ela também precisa de um colo, um abraço, ou simplesmente alguém que lhe diga: "calma, vai ficar tudo bem".

Nós, como filhos, fazemos um papel importante ao dar suporte a nossa mãe, pois o colo e o apoio do filho são acalentadores e restauradores, dando aquela força que estava faltando para levantar e seguir em frente. Porém, é importante que neste momento saibamos nos manter no papel de filhos. Nos momentos difíceis temos a tendência de sentir as dores de nossa mãe e/ou nos colocarmos como mãe/pai dela. É fundamental que possamos dar colo, mas um colo de filho, nos mantendo em nosso lugar. Vale tomar cuidado, também, com a simbiose, não permitindo que você sinta dores que não são suas.

A simbiose, no início da vida da criança, é importante para que haja um cuidado suficientemente bom com o bebê. Seria como se mãe e filho se tornassem um só, em uma relação na qual a mãe, nesta forte ligação, pode perceber o que a criança precisa e o que está sentindo, para poder atender as suas necessidades. Porém, às vezes esta simbiose se estende ou se reedita ao longo da vida, de inúmeras maneiras.

O que é importante compreender é que essa relação simbiótica pode fazer com que haja vivências de sentimentos que não são seus, mas de sua mãe. Perceba, nestes momentos, que determinado sofrimento é dela, não seu. Que a história é dela, não sua. E cuide dela como pode, mas não se aproprie de suas dores, afinal as nossas já são suficientes, não acha? Fica difícil ajudar o outro sofrendo as dores dele. Claro que isso vai mobilizar você emocionalmente, pois aquilo que afeta seus pais naturalmente lhe mobiliza também. Mas se mantenha no seu próprio sentimento, acolhendo e dando atenção às emoções de sua mãe, sem se apropriar e se identificar com elas. Perceba qual sentimento é seu e qual sentimento é dela e que você agregou. E ao compreender seus próprios sentimentos e dores, é essencial assumi-los. Assumir que você também está sofrendo, que você também está com raiva, ou qualquer outra emoção detectada que seja sua.

Dar colo para sua mãe não significa se tornar uma fortaleza e deixar de lado o que você pode estar sentindo."Dar colo para sua mãe não significa se tornar uma fortaleza e deixar de lado o que você pode estar sentindo."
Se mantenha em seu papel de filho, assumindo que você também sente algo com aquela situação e é um sentimento seu. Sem pegar as dores dela, mas assumindo as suas, você pode dar um colo de filho, um colo sincero de amor e carinho no qual os dois sabem seus lugares, mas podem se ajudar.

Desta forma, você pode auxiliá-la muito mais, levando força e firmeza para encarar o que for. E junto com isso, muito amor. Que possamos olhar para nossas mães - sem identificações e simbioses - e acolhê-las em suas dores, dificuldades e cansaços. E com amor, ajudá-las a transformar tudo isso em paz.
Luisa Restelli
Psicóloga e Psicoterapeuta Corporal. Além da clínica, trabalha com Dança do Ventre como caminho terapêutico