A dependência alcoólica geralmente representa
um ifuncionamento social.
mpacto profundo em diversos aspectos da vida do indivíduo e também
daqueles que estão ao seu redor. Devido à complexidade da doença, é
interessante que os programas de tratamento sejam multidisciplinares
para atender às diversas necessidades do paciente, como aspectos
sociais, psicológicos, profissionais e até jurídicos, conforme
demonstrado em diversos estudos, sendo mais eficaz na alteração dos
padrões de comportamentos que o levam ao uso da substância, assim como
seus processos cognitivos e
Antes de iniciar o tratamento, é
necessária uma avaliação do paciente, procedimento que pode envolver
diversos profissionais da saúde, como médicos clínicos e psiquiatras,
psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, assistentes
sociais e enfermeiros. Quando diagnosticado, deve contar com
acompanhamento a médio e longo prazo para garantir o sucesso do mesmo,
que varia conforme a progressão e gravidade da doença.
Durante o tratamento, deve-se ter
como meta a abstinência; no entanto, por inúmeras razões, esta pode não
ser obtida no início e nem mesmo ao longo do tempo. Apesar disso, o
indivíduo ainda pode ter benefícios por permanecer no processo, com
minimização dos prejuízos psicossociais, tratamento de comorbidades
clínicas e psiquiátricas, além de outras condições ligadas à
dependência. Nota-se, ainda, que quanto maior o número de envolvidos no
processo, como família, amigos, professores e colegas de trabalho , maiores são as chances de adesão ao tratamento e recuperação.
A família, em especial, é a
peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo do álcool, conforme abordei
no artigo "O papel da família na prevenção e no consumo precoce de
álcool", como em casos em que o problema já está instalado. Inclusive,
não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família,
principalmente porque o usuário de álcool não aceita seu problema, não
reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz consequências
negativas ou, até mesmo, sente-se desmotivado para buscar ajuda.
Portanto, um acompanhamento
específico e dirigido para os familiares é essencial para que
compreendam a doença e seus desdobramentos e, posteriormente, recebam
orientação adequada sobre a melhor forma de ajudar o ente querido e a si
mesmo. Além da Orientação (ou Aconselhamento) Familiar, cujo objetivo é
fornecer informações sobre a substância, orientar a família sobre como
lidar com a dependência e propiciar meios para que eles se sensibilizem
com o problema, há outros dois modelos frequentemente aplicados:
- Terapia sistêmica: destinada à natureza interdependente do relacionamento familiar e como essas relações influenciam (positiva ou negativamente) a doença, sob a perspectiva da família como um sistema. O foco do tratamento é intervir nos complexos padrões de relações entre os membros da família a ponto de gerar mudanças positivas para todo o núcleo
- Terapia Cognitivo-Comportamental (familiar e de casal): considerando que comportamentos associados ao uso indevido de álcool podem ser reforçados por meio de interações familiares, essa abordagem tem como objetivos principais alterar comportamentos que atuam como gatilho para o uso de álcool, melhorar a comunicação entre os membros da família e fortalecer e ampliar habilidades sociais.
No entanto, vale ressaltar que
muitas vezes a família adoece junto ao dependente ? fenômeno chamado de
codependência. Em termos gerais, ela é descrita como uma relação
disfuncional entre o paciente e o familiar, na qual o familiar passa a
se preocupar mais com o dependente do que consigo mesmo, sentindo-se
dominado pelas suas necessidades e desejos. Com o tempo, esse padrão de
pensamentos e comportamentos pode se tornar compulsivo e prejudicial,
como se a pessoa se tornasse dependente do dependente. Nesses casos, as
próprias abordagens psicoterápicas citadas acima podem auxiliar o
familiar. Contudo, existem grupos de ajuda mútua específicos para
familiares, como é o caso do Codependentes Anônimos (CoDA) e os Grupos
Familiares Al-Anon.
Em síntese, a família desempenha um
papel importante no tratamento da dependência do álcool, já que auxilia
na aderência, permanência, na superação de dificuldades decorrentes do
processo e no estabelecimento de um novo estilo de vida sem o uso do
álcool. Por último, a família também pode ajudar a equipe
multidisciplinar identificando mudanças comportamentais abruptas, por
exemplo: isolamento, irritabilidade, instabilidade do humor, prejuízo no
desempenho do trabalho, que possam ser indicativos de complicações ou
possíveis recaídas, as quais muitas vezes podem ser evitadas.