A família é um grupo social com uma organização complexa e
que possui um papel fundamental na constituição dos indivíduos. Além de estar
intimamente relacionada ao amadurecimento e desenvolvimento biopsicossocial, ela
é responsável pelo processo de socialização primária, ou seja, quando a criança
se adapta e se apropria das exigências do convívio em sociedade.
O contexto familiar é marcado por diversos períodos e
eventos que afetam direta ou indiretamente todos os seus membros. Um exemplo é o
período que corresponde à adolescência (12 a 18 anos), considerada uma fase de
intensas transformações relacionais, especialmente entre pais e filhos. É uma
etapa da vida na qual um indivíduo adquire habilidades e atributos necessários
para se tornar adulto. Marcada pela busca de identidade, escolha de papéis, essa
fase contempla também o desenvolvimento neurocognitivo - amadurecimento
biológico que possui importante papel na tomada de decisões, no bem-estar
emocional e no comportamento. Os jovens se veem repletos tanto de oportunidades
quanto de vulnerabilidades associadas aos comportamentos de risco como, por
exemplo, o início do uso de bebidas alcoólicas.
Família: influência positiva ou negativa?
Evidências científicas apontam que determinadas
características ou situações podem aumentar ou diminuir a probabilidade de
surgimento e/ou agravamento de problemas com o álcool, conhecidas como "fatores
de risco e proteção". Dentre os fatores de risco se destacam: genética,
transtornos psiquiátricos - transtornos de conduta - falta de monitoramento dos
pais e disponibilidade do álcool. Já entre os fatores protetores, destacam-se:
controle da impulsividade, supervisão dos pais, bom desempenho acadêmico e
política sobre drogas. Vale ressaltar que os fatores de risco não são
necessariamente iguais a todos os indivíduos e podem variar conforme a
personalidade, a fase do desenvolvimento e o ambiente em que estão
inseridos.
"As famílias podem atuar de maneira protetora, principalmente quando existem fortes vínculos familiares e envolvimento afetivo"
Diante deste cenário, pais e familiares desempenham um
papel importante na prevenção do uso de álcool pelos jovens. As primeiras
interações da criança ocorrem com seus familiares e podem ser positivas ou
negativas. Por essa razão, os fatores que afetam o desenvolvimento na família
são provavelmente os mais cruciais, podendo exercer tanto um caráter protetor
como de risco para o uso e abuso do álcool.
Observamos em pesquisas científicas que as crianças estão
mais propensas a desenvolver problemas com álcool quando há falta de
envolvimento afetivo; ambiente familiar vulnerável; pais com histórico de abuso
de drogas, transtornos mentais e comportamentos criminais; falta de autoridade e
uso de álcool na família. Quando se trata especialmente do abuso de álcool pelos
pais ou cuidadores, essas experiências podem comprometer o vínculo familiar e
ameaçar os sentimentos de segurança que as crianças precisam para um
desenvolvimento saudável.
Por outro lado, as famílias podem atuar de maneira
protetora, principalmente quando existem fortes vínculos familiares,
envolvimento dos pais na vida da criança, apoio da família ao processo de
aquisição da autonomia pelo adolescente; suporte familiar acerca dos aspectos
financeiros, emocionais, cognitivos e sociais; envolvimento afetivo; hábitos
saudáveis; comunicação clara e sincera; discernimento quanto aos papéis de pais
e filhos; limites claros e consistentes na aplicação de disciplina e
monitoramento dos diversos processos de crescimento e desenvolvimento.
Em suma, destaca-se a importância da família como o
primeiro e relevante agente para a formação de valores que protegem o jovem do
consumo precoce e excessivo de álcool. O diálogo aberto e a colocação de limites
constituem uma importante ferramenta na proteção do indivíduo.