terça-feira, 19 de abril de 2011

As gorduras da felicidade e as da depressão

As insaturadas, do azeite de oliva, do abacate e do salmão, afastam a tristeza profunda. Já as trans e as saturadas, dos doces e da carne vermelha, aumentam em até 50% o risco de a doença aparecer.

Esqueça aquela história de afogar as mágoas devorando um sorvete ou um pastel. A tática piora a situação e, agora, isso está provado cientificamente. E atenção: não só porque engordam, abalando de vez a autoestima. "Os ácidos graxos trans, presentes nessas comidas, aumentam em até 50% o risco de depressão", revela a epidemiologista Almudena Villegas, da Universidade Las Palmas, na Espanha, que pesquisa a substância há anos e acaba de divulgar seu último trabalho. "Quanto maior a quantidade ingerida, maior o risco de ficar deprimido", diz.

A lista de alimentos na corda bamba inclui industrializados como biscoitos, sorvetes, margarinas, salgadinhos e frituras. Eles recebem altas doses de gordura trans para se tornar crocantes. Uma vez dentro do corpo, aumentam o colesterol ruim e fazem um mal danado ao coração — além de prejudicarem os mecanismos cerebrais envolvidos no controle do humor. As gorduras saturadas, da carne vermelha, também foram enquadradas. Assim como as trans, elas têm um elo estreito com a depressão. E, de novo, quanto mais são consumidas, pior.

Felizmente, há outros ácidos graxos que combatem os efeitos nefastos da tristeza patológica. Os insaturados, do azeite de oliva e do abacate, têm esse papel. "O consumo de 20 gramas diários do óleo de oliva foi associado a uma probabilidade até 30% menor de ocorrência do problema", afirma Almudena. "Isso ocorre porque suas gorduras facilitam a passagem de informações entre os neurônios. Assim, evitam falhas que poderiam desencadear o transtorno", explica o psiquiatra Sérgio Klepacz, do Hospital Samaritano de São Paulo. "Já as trans dificultam a comunicação entre as células nervosas, porque envolvem a membrana do neurônio e o tornam menos fluido." E, se o fluxo de mensagens ali míngua, é quase certo que a depressão sem fim vá se instalar.

Mas como é, enfim, que uma simples escolha alimentar pode desencadear ou piorar os sintomas de uma doença tão complexa como a depressão? A resposta é complicada e passa, inclusive, por mecanismos envolvidos na fabricação de substâncias lá no coração. "As gorduras trans e saturadas aumentam a produção de moléculas denominadas citocinas. Elas são pró-inflamatórias e promovem alterações no endotélio, membrana que reveste internamente o tecido cardíaco", conta Almudena. O problema é que o tal do endotélio é responsável pela síntese de uma proteína conhecida como BDNF, superimportante para o crescimento e a capacidade de regeneração dos neurônios. Dessa forma, se ele não trabalha direito, desencadeia uma reação que se reflete nas células nervosas, que, sem conseguir se comunicar direito, deixam o caminho livre para o tempo fechar.


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