sexta-feira, 25 de março de 2011

Hipocondria pode começar em casa

Você conhece alguém que sabe tudo a respeito de doenças e medicamentos, que está sempre atualizada sobre novos exames e se sente preparada para distribuir diagnósticos para qualquer um que tiver uma reclamação de saúde? Depois de ler esta matéria, repare novamente neste comportamento: pode se tratar de um caso de hipocondria.

Diferente do que a maioria acredita o hipocondríaco não é exatamente aquele indivíduo que toma remédio para tudo e a toda hora, mas sim o que pensa frequentemente possuir algum quadro orgânico grave.

Enquanto as pessoas comuns não ligam muito para pequenas dores, desconfortos ou marquinhas na pele, as pessoas que sofrem deste mal interpretam esses fenômenos habituais de maneira particular, geralmente exagerada.

De acordo com o psiquiatra e coordenador do Programa de Atendimento a Estudos de Somatização da Unifesp, Dr. José Atílio Bombana, essas pessoas passam boa parte do tempo coçando, apalpando, analisando ou dando atenção específica ao corpo. "Eles têm um interesse exagerado pelo próprio corpo, funcionando de forma até autoerótica e autoagressiva. Sofrem com o medo de ser portadores de alguma doença importante, que está ligada a algo sério", explica.
A hipocondria

A hipocondria é um dos diagnósticos de um grupo de doenças chamado Transtornos Somatoformes de indivíduos que relatam ter sintomas que não são explicados pelas investigações médicas. "Pacientes com este tipo de transtorno tendem a ter dores e sensações que, ao serem investigadas, não apresentam alterações significantes", explica Bombana.

Os sintomas da hipocondria também se apresentam em transtornos não somatoformes, como a depressão. "A diferença é que, nestes casos, quando melhoram do quadro depressivo, deixam de acreditar que possuíam alguma outra doença", afirma.

Enquanto a somatização acontece mais com mulheres, a hipocondria acontece também entre os homens. E tende a ser crônica, com agravamento em períodos de estresse e de muita tensão.

Ainda são investigadas as causas da doença, mas um fator que colabora para o seu surgimento são as famílias que valorizam demasiadamente o corpo, impondo dietas ou treinamentos pesados. Pessoas que convivem com pais com doenças graves como diabetes ou hipertensão também têm um fator predisponente.

Consumo de medicamentos

Conforme descrito acima, a característica principal do hipocondríaco não é a de tomar medicamentos o tempo todo. Em alguns casos, são tão preocupados com a possibilidade de portarem alguma doença que deixam até mesmo de tomar alguns medicamentos prescritos pelo médico. Chegam a acreditar que a medicação pode piorar o seu quadro de saúde ou presentear-lhes com efeitos colaterais indesejados.

"Eles estão frequentemente pesquisando na internet, sabem das novidades em termos de exames e desconfiam até mesmo dos médicos, porque se sentem bastante instruídos a respeito de doenças", afirma o psiquiatra.

Relação médico x paciente

A relação entre um médico e um paciente hipocondríaco pode ser bastante difícil. "Eles tendem a procurar os médicos e a repetirem as mesmas reclamações no consultório. São detalhistas, sofredores e repetitivos. Não se convencem do que o médico fala. É preciso repetir, esmiuçar cada assunto e isso pode gerar uma relação problemática entre o profissional e o paciente", explica.

"São pacientes muito angustiados e apenas buscam alívio nas palavras dos médicos, não é proposital. Estão geralmente à procura de outros profissionais pela dificuldade em acreditar em quem já os atende", afirma Bombana.

Doenças mais comuns

As preocupações mais comuns entre os hipocondríacos são geralmente relacionadas a uma ou duas doenças principais. Problemas no sistema digestivo ou no intestino são reclamações bastante frequentes, por isso muitos iniciam dietas desnecessárias, sempre acreditando que não podem ingerir esse ou aquele alimento. Doenças do coração também são queixas comuns.

Ao deixarem o consultório sem um diagnóstico positivo, tendem a voltar para casa frustrados, com a certeza de que não foram bem investigados.

Riscos

Além da automedicação – que é sempre um perigo para qualquer indivíduo – um dos grandes riscos para pacientes hipocondríacos é se submeter desnecessariamente a procedimentos delicados.

Quando a relação com o médico entra em uma fase de desconforto, com o paciente sempre duvidando de sua palavra, não raro os profissionais vão ficando cada vez mais inseguros em não encontrar o que ele relata e acabam solicitando exames cada vez mais invasivos e até mesmo cirurgias sem necessidade.

"Outro risco bastante nocivo ao paciente é viver em função da doença, deixando de fazer as atividades do dia a dia normalmente, como ter prazer ao lado da família e de amigos, trabalhar ou viajar", afirma o psiquiatra.

Tratamento

Não existe medicação específica para o tratamento de hipocondria. Geralmente, são prescritos antidepressivos, que não curam, mas diminuem os sintomas, e ansiolíticos para reduzir a ansiedade. Para os casos mais graves, a alternativa principal é a psicoterapia.

Como ajudar?

Hipocondríacos se sentem melhor só de serem ouvidos. Para quem convive com um, a indicação é ter paciência para ouvir as reclamações, sem se deixar levar. Não é preciso ir ao médico a toda hora!

"Só de serem ouvidos, já se sentem muito melhor. E para quadros mais importantes, indicamos que ajudem o indivíduo a procurar terapia profissional", conclui o psiquiatra da Unifesp.


Albert Einstein