quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sem contraindicações, a técnica chinesa do-in ajuda a aliviar dores do dia-a-dia e ganha adeptos no mundo ocidental

Responda rápido: ao sentir aquela dor nas costas, tudo o que se deseja é que alguém faça uma massagem no local até aliviar o incômodo, certo? Como nem sempre é possível encontrar um massagista de plantão, é mais do que necessário ter um plano B. No entanto, ele não precisa ser uma nova invenção eletrônica ou tampouco estar na caixa de remédios. Entre as terapias alternativas, a chinesa do-in é uma das que promete aliviar dores e prevenir doenças.

Sem contraindicações, a técnica consiste em usar a automassagem em pontos estratégicos do corpo. Cada local corresponde a um sintoma. "Qualquer pessoa pode praticar o do-in, contanto que conheça a localização exata dos pontos", explica o massagista José Augusto Maciel Torres. Para chegar até esses locais, é necessário compreender o conceito de energia, muito utilizado pelos orientais para explicar a saúde.

Segundo a cultura chinesa, o homem está entre duas energias: o Yin, localizada na terra, e o Yang, no céu. "Como são opostas, se atraem, e nós somos um transformador de energias do céu e da terra", explica Rodolfo Correa Lima, diretor- presidente do Centro de Estudos do Corpo e Terapias Holísticas. Para ser saudável é necessário que haja uma circulação adequada desta energia pelo organismo. No corpo do homem existem pontos de condensação de energia, sensíveis a estímulos externos. "Quando 'doentes', ficam enrijecidos e sensíveis, devendo ser tratados para a melhora do quadro patológico", esclarece. Existem duas formas de obter resultados massageando esses pontos. No caso do excesso de energia, é preciso usar uma pressão profunda no local, técnica conhecida como sedação. "É simples, usa-se o polegar para pressionar a área por alguns segundos", explica Lima.

Quando o necessário é produzir energia, a regra é estimular o ponto. "Desta vez, aplica-se toques leves, várias vezes, com os dedos na superfície dos pontos", diz. Apesar de exigir acompanhamento médico inicial, que irá indicar os pontos corretos e as formas de massageá-los, a terapia ganha adeptos por ser bastante flexível. Pode ser praticada em grupo ou individualmente, quantas vezes o praticante achar necessário e em qualquer horário ou local.

"O ideal é que seja feito ao acordar ou antes de dormir. Além, claro, de quando houver algum desconforto", afirma Lima.

Para fazer em casa!

Faça você mesmo e alivie alguns males diários. Mas, lembre-se, para obter resultados, a prática deve ser diária

Ativação da circulação: para este exercício, você usará as duas mãos. Separe bem os dedos de uma das mãos e, com a outra, massageie a ponta dos dedos um a um. Não tenha pressa, faça movimentos circulares e use diferentes intensidades de pressão. Antes de passar para o dedo seguinte, dê breves beliscões nas unhas. Faça o exercício com os dez dedos das mãos.

Dores de pescoço: para aliviar incômodos nessa região, junte os dedos e faça uma concha com a mão. Na junção do dedo mindinho com o restante da mão, você encontrará um osso. Massageie o local por aproximadamente um minuto. Faça o mesmo exercício com a outra mão.

Resfriados e sinusites: nesse caso, a massagem será no nariz. Usando as pontas dos dedos das duas mãos, friccione moderadamente o nariz. Batidas leves também auxiliam a melhorar o mal-estar.

O trabalho conjunto

Apesar de apresentar bons resultados durante os tratamentos, o do-in depende de outras variáveis. "A fuga do modo natural da vida é o que gera o desequilíbrio energético", afirma Torres. Uma combinação de rotina estressante, falta de exercícios físicos regulares, alimentação desregulada e excesso de bebidas e cigarros contribuem não só para o aparecimento de doenças, mas também no retardo dos benefícios proporcionados pela técnica.

Como o do-in é considerado uma terapia alternativa, muitas vezes realizada em conjunto com a medicina ocidental, não é possível quantificar os resultados positivos. "Até porque a cura é muito relativa. E, na verdade, a essência do do-in e da maioria das técnicas orientais é o aspecto preventivo", afirma o especialista.

Além de unir o trabalho do do-in com o tratamento convencional, é possível ligá-lo a outras técnicas alternativas, como o shiatsu e a acupuntura. Usando o mesmo princípio, o de massagear pontos de condensação de energia. A diferença entre elas está no modo em que isso é feito. Literalmente, a palavra shiatsu significa "pressão dos dedos", enquanto que acupuntura pode ser descrita como "punção de agulha". "Quando aplicamos a pressão dos dedos em nós mesmos, praticamos o do-in; quando usamos a mesma técnica em outras pessoas, trata-se do shiatsu; e, finalmente, quando usamos agulhas para ativar esses pontos, a técnica é a acupuntura", explica Lima.

O do-in se diferencia por permitir que o paciente tenha um contato consigo próprio durante o tratamento. Dessa forma, é possível ficar mais atento aos sinais que o organismo dá quando algo está errado.

Terapia pública

E foi justamente o do-in que ajudou os moradores da cidade de Itajaí, uma das mais afetadas pela enchente que assolou o estado de Santa Catarina em novembro de 2008, a se recuperar dos traumas deixados pela tragédia. "Quando isso ocorreu, muitas pessoas já praticavam o do-in e se beneficiaram dele naquele momento difícil", afirma o médico Marco Giostri, com especialização em saúde pública e coordenador das práticas de do-in na rede do SUS em Itajaí (SC).

Aplicada em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade desde 2005, a técnica já apresentava bons resultados entre os pacientes. Os idosos são a maioria nos grupos que se reúnem semanalmente para uma hora de automassagem.

"Muitos dos pacientes já chegam até nós com dores crônicas, sem solução pela medicina alopática convencional", detalha Giostri. Segundo o médico, ao longo do tratamento é possível notar melhorias. "Principalmente na redução significativa no uso de medicamentos, como antidepressivos, anti-inflamatórios e analgésicos", explica.

Apesar de pioneira, programas semelhantes podem ser encontrados em unidades do SUS de cidades como Londrina, Recife, Colombo (Paraná) e Brasília (Distrito Federal).

Caroline Afonso / Shutterstock