quinta-feira, 18 de novembro de 2010

‘Não sabemos por onde começar’, diz médica brasileira no Haiti

Os médicos voluntários que foram ao Haiti para tratar as vítimas do cólera estão de mãos atadas por problemas logísticos. A avaliação é de Tais Rodrigues Lara, médica especializada em cuidados intensivos do Hospital Israelita Albert Einstein. “A gente não sabe nem por onde começar, e fica frustrado porque queria ajudar mais”, disse Tais, por telefone, ao G1. A intensivista, que chegou ao Haiti quinta-feira (12) e retorna ao Brasil sexta (19), já esteve no país no início do ano para ajudar os feridos pelo terremoto de 12 de janeiro. “A situação é muito parecida com a que vimos aqui oito meses atrás. Há cerca de 1,3 milhão de pessoas vivendo em tendas, não há saneamento, coleta de lixo ou rede de água e esgoto.”

Não é nada fácil ajudar em um contexto como esse, lamenta a médica. “A chegada dos insumos e equipamentos para tratar o cólera leva muito tempo, e a chave para salvar as vítimas é justamente conter a desidratação rápida, a principal característica da doença”, diz.

O cólera é uma infecção intestinal causada pela bactéria Vibrio cholerae, que provoca diarreia grave. O tratamento precoce com antibióticos elimina as bactérias e costuma parar a diarreia em 48 horas. Mais de 50% dos pacientes com cólera grave morrem se não forem tratados. Mas, com hidratação rápida, a mortalidade é inferior a 1%. A cepa (variedade) do vibrião do cólera que está circulando no Haiti pode matar em apenas 4 horas, segundo Tais.

O kit para combater o mal não é nada sofisticado: soro para reidratação endovenosa, cateter (tubo para injetar o soro na veia), lençóis, luvas descartáveis e álcool em gel. Mas qualquer deslocamento, mesmo mínimo, leva no mínimo 45 minutos, conta a médica. “O tráfego está caótico, absolutamente parado. Nós perdemos 4 a 5 horas só no trânsito, todos os dias.”

Ainda segundo Tais, a ONG Médicos Sem Fronteiras e outras entidades estão agora se preparando para a subida dos casos de cólera na capital Porto Príncipe nas próximas duas semanas. “A correria, no momento, é para tentar que as pessoas tenham acesso em tempo hábil ao tratamento, que é relativamente simples.”



[ G1 ]